A trajetória espiritual de Mãe de Santo Aurenice Rodrigues, a Fanta
Aos 48 anos, Aurenice Rodrigues, mais conhecida como Mãe Fanta, é um dos grandes nomes da religiosidade de matriz africana no Maranhão. Nascida e criada na comunidade Capoeira de Gado, ela iniciou sua caminhada espiritual ainda criança. Aos seis anos, já incorporava seus guias, passava remédios e realizava benzimentos. O primeiro deles foi para o próprio pai, que sofria de dores no estômago, quando, em meio a uma brincadeira de criança, recebeu a visita espiritual de Dona Mariana e do Mestre Zé da Mata, que lhe ensinaram a preparar a cura.
Com apenas 10 anos, Aurenice começou a trabalhar no terreiro da mãe de santo Emília, em São Romão, e daí em diante sua trajetória se consolidou. Visitou diversos terreiros de Umbanda e Tambor de Mina, atuou ao lado da mãe de santo Emília e também no terreiro do pai de santo Gregorinho, na Campina dos Brancos. Ao longo dos anos, foi presença constante em festas e rituais em povoados vizinhos, ampliando sua vivência espiritual e fortalecendo sua ligação com a fé e a tradição.
Aurenice se mudou para o Quilombo Jamari dos Pretos, onde passou a trabalhar com o pai de santo Raimundo Sebastião, o Dico Preto, uma das maiores lideranças religiosas da região. Em 2007, fundou seu próprio terreiro, inicialmente simples, com tapado de barro e coberto de palha, mas já marcado pelo acolhimento e pelo trabalho de cura. Sempre dedicada, manteve uma relação de parceria com Dico Preto, visitando e recebendo-o em sua casa até sua morte, em 16 de abril de 2021, quando a liderança espiritual da comunidade passou naturalmente a ser carregada por Mãe Fanta.
Em 2024, Aurenice reconstruiu o terreiro, agora com estrutura de madeira e cobertura de telha brasilit, garantindo melhores condições para a realização dos rituais. Todos os anos, entre os dias 21 e 23 de novembro, promove o festejo em homenagem ao Caboclo Zé da Mata, guia que a acompanha desde a infância e considerado o dono de sua tenda espiritual. Assim, Mãe de Santo Aurenice de Ogum segue mantendo viva a tradição da Umbanda e do Tambor de Mina, transmitindo fé, cura e resistência cultural ao povo da região.