Entre Fios e Recomeços
Marly Carvalho dos Santos
Aprendi a crochetar quando tinha apenas 12 anos. Lembro-me bem das tardes na casa da minha madrinha, onde o tempo parecia correr mais devagar. Eu ficava ali, observando suas mãos ágeis transformarem simples fios em verdadeiras obras de arte. Foi com ela que aprendi os primeiros pontos — altos, baixos, correntinhas — e, mais do que isso, aprendi o valor da paciência e da dedicação.
Por alguns anos, o crochê fez parte da minha vida. Era um refúgio silencioso, um jeito de me expressar sem precisar de palavras. Mas o tempo passou, vieram os estudos, o trabalho, as responsabilidades… e, aos poucos, deixei o crochê de lado. Guardei minhas agulhas e novelos em uma caixa, sem imaginar que um dia voltaria a procurá-lo.
Então chegou o ano da pandemia. O mundo parou, e dentro de casa eu me vi cercada de incertezas e de tempo — tempo para pensar, sentir e relembrar. Um dia, revirando o armário, encontrei aquelas revistas de crochê. Quando abri, senti um misto de nostalgia e vontade de recomeçar. Peguei a agulha, escolhi um fio e, meio sem jeito, tentei o primeiro ponto.
As mãos pareciam lembrar o que a mente já tinha esquecido. E assim, entre erros, acertos e sorrisos, o crochê voltou para minha vida. No começo, era só uma forma de passar o tempo, mas logo se transformou em algo muito maior. Comecei a fazer peças para amigos, depois para conhecidos, e quando percebi, estava vendendo meus trabalhos e vivendo do meu artesanato.
O crochê me devolveu algo que eu nem sabia que havia perdido: a paz, o propósito e a alegria de criar. Hoje, cada peça que faço carrega um pedacinho da minha história — da menina de 12 anos que aprendeu com a minha madrinha, da mulher que reencontrou o fio da vida em meio à incerteza e da artesã que descobriu que nunca é tarde para recomeçar.
Hoje vivo do crochê 🧶 e tenho muito orgulho, é uma profissão que devemos valorizar,amo o que faço e estou sempre querendo aprender mais.